quinta-feira, 8 de março de 2012

Notas sobre o Grito Rock Floripa.


Mesmo quem, como eu, só chegou ao evento no último show, pode perceber: o Grito Rock Florianópolis de 2012, realizado na UFSC, teve seus momentos de beleza e feiura, ordem e caos, disciplina e indisciplina. Eu mesmo já me apresentei em uma edição anterior do festival, realizado no finado Clube da Sinuca, na Lagoa. Esta e aquela foram duas festas completamente diferentes, e uma comparação entre as duas ilustra muito bem algo notável em Florianópolis e no Brasil: a cena está mudando.

O evento em que toquei apresentou apenas bandas locais. A banda Mordida, de Curitiba, seria a atração "importada", mas cancelou o show em cima da hora. Minha banda, a
Stereo Tipos, fez um show que mesclava covers e composições próprias. As demais atrações eram figuras notáveis da cena local. O show aconteceu em um estabelecimento particular, cobrava ingresso e recebeu duas ou três centenas de pessoas. Já em 2012, tivemos o show aberto para um público de milhares, amparado por estruturas de uma universidade federal e de coletivos que, com bastante esforço, fizeram o evento acontecer. A atração principal, os Autoramas, tem um passe muito mais valioso do que a banda Mordida. O público não desembolsou diretamente um centavo para curtir o evento, a não ser que tenha comprado a cerveja - barata. Em dado momento, entretanto, o grito teve que fazer silêncio. Às 22h, o show acabou. Encerrou-se ali o horário permitido para se fazer barulho e, em uma atitude não muito de grito nem muito de rock, o som se foi. A festa, claro, continuou.

O Rock, como nasceu, não era lá uma figura muito respeitadora de instituições de ensino e de leis de silêncio. Great
balls of fire. Hail, Hail, Rock and Roll. O rock mudou. As instituições de ensino mudaram. As leis mudaram. Os tempos são outros. Hoje, fazendo um festival de rock em uma local de estudos, nós obedecemos os horários estipulados e, contraditoriamente, contemos o grito. Erguemos a voz e o volume quando nos é permitido. Estamos jogando o jogo e, por outro lado, embora contenhamos o grito conforme nos é ordenado, temos a malandragem de segurar esse rojão porque ele nos vai abrir outros espaços no futuro. Nesse paradoxo, a obediência às regras fez com que o Grito Rock de Florianópolis crescesse e se tornasse mais aberto e democrático, enquanto a desobediência a uma ou outra regras evidentemente estúpidas fez com que o Clube da Sinuca, aquele excelente bar, fechasse as portas. Para onde esse círculo todo nos está levando, realmente não sei. É um paradoxo entre a disciplina e a indisciplina, e não sei onde o rock se encaixa hoje em dia. Talvez nos dois. Penso que hoje há outros gêneros mais outsiders do que o Rock e o Hip Hop, mas isso é pra outro papo.

Uma coisa, entretanto, se manteve intacta de um evento para o outro: a animação do público. Tanto aquelas talvez trezentas pessoas da Lagoa quanto as milhares de pessoas da Universidade curtiram, balançaram, dançaram e, quero crer, sentiram-se mais livres e vivos enquanto os shows duraram. O som foi cortado às 22h,
but the show must go on. Enquanto o rock pode gritar. Quero saber o que nos espera adiante, quero estar lá para ver, mas mais do que tudo, quero estar aqui para construir.                         

Juliano Malinverni.

Da Caverna
Na luz que eu não paro de ouvir
No som que eu não paro de olhar
No gosto do arco-íris a se derreter no céu da boca
Sob o sol eu sigo a caminhar
Sobre o som me ligo em teu olhar
Entre o sob e o sobre, sou um sábio sóbrio a saborear
Às vezes fico pensando se estou pirando
Eu sou um louco sem direção
Prefiro estar na contra-mão pra ver seu rosto
Gosto de cada gota que gasto
Gasto cada gota que gosto
Gosto do que gosto porque gosto então me deixe gostar
Paro penso paro pra pensar
Penso andando, preciso parar
Para refletir, refratar e confundir o predador

Canção de espera


Eu espero uma canção assim
eu espero numa canção assim
eu espero...
altofalante ligado
sem nenhuma dor
eu espero uma canção assim
eu espero, acho que ela não vem
eu espero...
acho que ela não vai
mais aparecer

Juniores Rodrigues Juniores.

 http://soundcloud.com/juniores/sets/can-es-de-espera/

Vermelho


Eu ainda podia ouvir
as castanholas & o som
caliente do violão

8 graus vazios ...
Da noite só restaram
as garrafas & a cera das velas .
A chama dançante da última delas
me observava & fingia num compasso absurdo .

Decidi dormir.
Lola.

Depois do Turbilhão by Estou Cavando Um Buraco


Enchi de ar meus lábios
E os meus lábios me encheram de voz
Pintei com a cor dos meus olhos
E meus olhos pintaram meu chão
Roubei a fagulha do turbilhão
Voltei com a vida nas mãos
Perdoei as feridas
Dei meu amor ao máximo
E o máximo ergueu meu coração
E vi que cada
empasse
Que me enlace
Cabia em minha mão
Venci o perigo do turbilhão
Voltei com a vida nas mãos
Perdoei as feridas.

PORNASO


Ele prolonga-se até ficar de pé
Quando tua boca escala até
O posto píncaro de minha pica
Eu digo: - fica que ele estica.
Sinto-me feliz estando a olho nu
Diante de teu róseo e belo cu.
Apaixonado por teu redondel
Cravo o anelar no teu anel.
Nas gêmeas virgens tetas com saúde
Eu as mamo mais que amiúde.
E quando ficas toda orvalhada
É na tua boa boceta bem salgada
Que eu enterro meu tinto tabaco
E crio inveja até no Deus Baco.
(José Luiz Amorim)

O QUE PENSO DE MIM

(Herman G. Silvani – banda Epopeia)

G                                                                 D – C
N’UM MUNDO FEITO DE GIRASSÓIS
G                                                             D - C
SONHEI NOTURNA, ÉRAMOS NÓS

C               D                    G               
ACORDEI, ESTAVA SÓ
C                              D
GUARDANDO SONHOS
                               G
SOPRANDO O PÓ
                  
C                         D                                
NUNCA ESTOU
C                    D
MAS EU SOU
C                      D                    G – F – D - C
O QUE EU PENSO DE MIM...

G                                                                      D - C
UMA PAREDE, UM QUADRO NO CHÃO
G                                                          D - C
UMA IMAGEM TORPE... OU NÃO!

C               D                     G
ACORDEI, ESTAVA SÓ
C                                        D
GUARDANDO SONHOS
                                G
SOPRANDO O PÓ


C                         D                                
NUNCA ESTOU
C                    D
MAS EU SOU
C                      D                    G – F

O QUE EU PENSO DE MIM
...

 http://www.epopeiarock.blogspot.com.br/ 

quarta-feira, 7 de março de 2012

Ai..

Lá vem ele
queimando o assado com
a minha batata quente
pulando das mãos
cheio de papo furado
         e falsas conclusões.

"Me poupe dos detalhes sórdidos!
você não sabe da missa a metade..."
& nem que soubesse.

Dobra a língua(!)
Pra falar da minha vida sexual
e usa ela por prazer,
a raiva desqualifica e frustra
dói ouvir as preliminares...
Ejaculação precoce só funciona
com quem (con)sente.
Percorre com
astúcia e audácia
meu leito de morte
e me dê à vida!

Retorna na pele
suada de tantos delírios
grudando cheiros
e gostos & rostos
perdidos na memória
saco de ilusões!

O cheiro era forte
de carne ao whisk
(mal) dormido
reserva doze anos
                ou cinco.

Do ócio


O homem douto, e por razão sensato,  
Hora ou outra entende e crê de forma verve
Que o trabalho não é mais que um peso ingrato
E o tempo é parco e a vida sempre breve.

O labor então enfim se rende ao fato,
Ao mais notório da existência breve:
Não há tempo que nos faça satisfeito
Dos desfrutes que a existência teve.

Certo que se arrependa quem trabalha
E vê passar as horas de soslaio
Já que tudo finda a nos valer ligeiro.

Entende o quão no mundo foi canalha,
E se percebe menos que o lacaio
No encontro eterno com o derradeiro.

Ausência


– Fique longe de mim!
A mão espalmada, o corpo curvado e os dentes arreganhados eram as armas do pai contra seu filho.
– Você não é bem-vindo! Vá embora daqui!
O rosto do filho, imagem exata da culpa, se limitava a chorar e olhar para a palma daquela mão. A mão áspera e forte que tantas vezes segurara o filho quando bebê, que protegera o filho quando aprendia a andar de bicicleta; a mesma mão que o forçava a se afastar.
O pai recordava aquele momento fielmente em sua mente, jamais esquecendo do que fez naquele dia. Mesmo sozinho na mesa da cozinha com uma garrafa quase vazia e a embriaguês se instalando, a lembrança não ia embora.
E além da lembrança, a culpa também resolvia visitar a consciência do pai. A culpa o forçava a imaginar a vida que poderia ter com o filho ao lado, ao invés daquela vida vazia e inútil que se resumia naquela imagem. A solidão e a garrafa.
Quanto tempo havia passado? Tempo demais. Ele mal era um adulto quando foi embora. E agora já deveria ter uma família própria, com os próprios filhos. Deveria estar feliz. Uma lágrima solitária desceu enquanto o pai se orgulhava do filho de sua própria fantasia.
– Ele não precisa mais de mim.
Falou morbidamente para si. E acreditou em sua mentira piamente. Era só um velho, mesmo, sozinho e morrendo aos poucos. Ninguém sentiria falta. Tomou em um gole o resto da garrafa e se debruçou da mesa. Fechando os olhos, pronto para morrer.
E então. Um bater na porta. O coração do pai se acelerou, por alguma razão. Cambaleante. Trôpego. Conseguiu encontrar a porta da frente.
Girou a maçaneta e puxou a grande madeira.
Estava chovendo. E a pessoa estava encharcada.
A pessoa era um homem. Com quase quarenta anos. Ele sorria. Um sorriso largo. As gotas da chuva pingavam de seu nariz.
O pai olhou bem para o rosto da pessoa. Perplexo. Seu coração batia forte. Feliz.
– Filho!
Não era.

Soneto da (re)criação.


Quero que o sol crie corpo e cresça tanto
Que possa alguém, se desejar, tocá-lo,
E fique perto deste céu ao ponto
De engolir o canto do ultimo galo.

Peço a lua que desabe ao chão em pranto
E que na queda gere um grande abalo,
Que escutem seu lamento e o desencanto
De quem gira o mundo só a contemplá-lo.

É que um dia, num capricho irrelevante,
Um deus, destes que vem por graça ao mundo,
Deu ritmo aos papéis destes dois astros.

Já é hora de qualquer outro tratante
Dar a forma, o andamento e um novo fundo
Ao tempo, ao sol, a lua e aos nossos passos.

Amo a ausência que tu’alma glorifica
Sendo tua
a onipresença
Em meu pensamento habita
O meu sentimento exercita
deixa claro que à distância
Magnetiza
Pra sempre espero aquilo
Que a saudade magnifica
És minha fonte de ação
Meu porto inseguro
Quarto escuro
em que esboço teu rincão


A realidade nos cerca
Uma vez
cada vez
mais
Assustadoramente ela te isola
te hermetiza. Até na morte.
O agente funerário apertará com força as borboletas do teu caixão.
Dentro em pouco
nada restará de ti.
Erguerão homenagens pétridas em teu saudoso nome
Teus inseparáveis amigos vermes, serão, por pouco tempo
parte de ti.

Por ti chorarão.

 Mas por pouco tempo.
O mundo se acostumará a tua ausência.
Teu túmulo se encherá de flores que por ti hão de murchar.
Este é teu destino, existencialista.
Acordarás podre. Preso. Sob a ação do tempo. Na pedra erguida em tua homenagem.

DOS DEVANEIOS DO QUE VI E OUVI COMO HABITANTE SOLITÁRIO EM LUGAR ALÉM. I


Primeiro Devaneio – Do Cajueiro

Um horizonte a se aproximar do olhar e que é de tantas lonjuras, de tantos desgastes para ser alcançado. Ventania deu para levar ao de lá a chuva, o sol arde dolorosamente sobre a areia molhada, coisa de cegar os olhos, de querer escondido se aninhar, pra o de longe fugir, adentrando por matas que o sol não ou, então, cerrar a casa e ficar ali, não sendo, até que o sol amaine.
Ontem subi pé de cajueiro, mas não qualquer cajueiro, diria até que era um senhor cajueiro, tronco grosso, reto, com galhos firmes e longos, deve ter para mais de dez metros de altura, ele. Subi até a ponta e fiquei lá, escorado, sendo embalado pelo vento que soprava forte, olhando o rio a se dobrar em curvas, se perder em mangues com suas lamas e seus seres de lama ou, se desfazer em brancas praias habitadas de seres mais sujos que os habitantes dos mangues, mais peçonhentos, mais abomináveis, mais vestidos de cores laranjadas e verdes limão, seus vermelhos que brotam em profusão, como brotam gargalhadas alcoolizadas, como brotam sons enervantes em volumes histéricos. Tudo para esquecer do vazio da vida, da amplidão de nadas, do não mais querer para o futuro a não ser outras máquinas mais enervantes que produzam sons mais histéricos, gargalhadas mais abomináveis. Tudo para mostrar ao maior número de gentes o quanto são supostamente felizes, pois que bebem e riem e gastam e jogam em torno suas excrescências. Tudo para abafar os sons e as imagens dos seres da lama, aqueles, mais limpos, que cavam cada vez mais fundo o mangue para fugir, para se esconder, para não ser. Pensar nisso olhando o rio de cima do cajueiro, fez tudo derreter, perder o viço, fechei os olhos querendo me tornar parte do cajueiro, parte do embalar, parte do vento. O imperativo grito de mico sentado em galho próximo, a não mais de dois metros me tirou do devaneio de árvore. Senti-me acusado por seus redondos olhos brilhantes e seus dentes afiados, devidamente perfilados e a mim exibidos, de estar em lugar que não cabia, pois que pontas de árvores são lugares para micos e não para humanos que se perdem em devaneios de rio. Desci do cajueiro e tomei trilha de outros bichos, outros seres, mas não me perdi.


continua...

quinta-feira, 1 de março de 2012

O Baixo e o Soprano


Agudo é o som que soa de ti
Agudo, esticado e dilacerador
Arde a carne e as membranas
Barulho fino, constante
Saiu de ti, mulher
Dos teus instrumentos agudos
Tão mais grave que um grave som

Porque graves sons vêm apenas para lhe acariciar a pele
Machuca o teu coração pela suavidade
Ferida vinda de prazer
O mesmo que te exclui da gravidade da terra
Fechas os olhos pela gravidade do som
que exclui a gravidade da terra
Grave como todos os sons graves da natureza
Isso inclui o amor, que também é grave, mas não é da natureza

Só que o amor é um objeto insubstancial grave de som agudo
Essa fusão só o amor consegue ter
E realiza-se no palco
Na briga e na harmonia das vozes
Termina no palco, também?
Vozes e sons ecoam e ressoam
E o amor…

Joaquim não apareceu de novo em nossas ruas, as janelas de sua casa estão cada vez mais paralisadas.
JOAQUIM LEIA NOSSOS BILHETES
Quem tinha esperança de bater em sua porta e encontrá-lo, hoje apenas tenta acostumar-se com memórias.
Sabemos que ele está vivo, mas por que não aparece mais?
Dentro de sua casa, Joaquim tenta desenhar novamente na madeira antes moldável e amiga, hoje dura e fria, sem manifestações. Logo, ele a deixa de lado, diz para si mesmo que o momento não é de inspiração, não é o momento para voltar a construir os brinquedos de madeira, um consolo para não assumir sua desistência momentânea, quase oficial.
Joaquim se tornou dois. Seu corpo e sua mente não conversam mais, acordos não são estabelecidos, ele mergulha em livros imaginários, aventuras, enquanto seu corpo segura nas mãos livros reais, mas amarelados sem serem apreciados. Suas mãos estão cada vez mais limpas, sem uso, delicadas. Seu corpo desfruta mais de suas mãos e seus olhos vagos do que sua mente, que luta para mover-se, mas não existem membros para ajudá-la.
Algumas pessoas cochicham nas ruas sobre ver Joaquim rapidamente dentro de sua casa nos raros momentos de janelas abertas.
Os comentários são unânimes: – Ele precisa voltar, mas não temos esperança.
Preciso criar coragem para jogar na casa de Joaquim um bilhete pedindo para ele levantar do sono que não consegue acordar.
Eu quero brincar com brinquedos novos, quero companhia para imaginar possibilidades criativas novamente, mas com ele. Irei amarrar meu bilhete em uma pedra grande e escura, para que ele tropece, machuque as mãos e os joelhos na queda. Para que enxergue no chão a sua frente todos os outros bilhetes amarelos e borrados que acumulam aos montes no quintal sujo de sua casa e resolva voltar.


Lucas Prezom

nós amamos a ciência nº2


Luva aos pés


Lucas Ferrazza
Daí o lençol sempre acabava voando comigo pela casa. Sempre tive um cuidado muito grande para não esquecer do tempo e acabar dormindo no teto, sem querer. Minhas luvas de borracha cor de laranja (de laranja) assustavam qualquer tipo de inseto que pensava em voar ao meu lado. Então eu ligava o chuveiro, deixava a água bem quente, saía correndo e me jogava pela sacada. Eu nunca morri, eu sempre voava, voava feito um menino de lençol com luvas laranjas, laranjas.

Desterro


Declamo descrevo Desterro
Dentre donzelas, dunas, Daniela.
Dinheiro, dólar, doleiros.
Damas, drogas, diesel, Derby, drinques.
Doses doloridas, dormente, diarréia diária.
Desterro doente. Devorada dragada.
Dupla, dizímo, danos, dinossauros.
Distintivos desdém, diplomatas desdizem.
Ditadores desfilam.
Duques decaedros dizem disfarces.
Dossiê desvios documentos, desperdício deputados.
Desumanos, demos, desclassificados.
Diabos derradeiros, dons daninhos,
Dalilas discretas, Dráculas diurnos, dentes dourados,
Deixaram-te desbotada descalça desnuda desfolhada.
Despetalais dia, dia demasia.
Débeis debocham de Desterro.
Dá-me desejo.
Desconfie deles, Desterro!
Dê descarga, Desterro.
Desterro, deslumbra-me Desterro.
Deleite de deusa
Desenho dos dedos divinos
Damasco de Deus,

Dardejas dezembros diamantinos.
Obs: Desterro é atual Florianópolis.
Autor: José Luiz Amorim